A Pedagogia de Paulo Freire

Paulo Freire

Paulo Freire nasceu em Recife, no dia 19 de setembro de 1921, e faleceu na cidade de São Paulo, em 02/05/1997, aos 75 anos. Foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais, devido a suas pesquisas e métodos no campo da alfabetização, principalmente no que se refere à Educação de Jovens e Adultos.

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O Método Paulo Freire

Seu Método foi aplicado pela primeira vez na região de Angicos (RN) em 1963, buscando, através do seu conhecimento e sensibilidade, alfabetizar e politizar os povos daquele lugar. O contexto histórico daquela região era marcado por trabalhadores rurais, domésticas, pedreiros, entre outros trabalhadores que acreditavam na importância de aprender a ler para “mudar de vida”. Segundo registros – que podem ser conferidos no livro “As quarenta horas de Angico”, de Carlos Lyra – cerca de 300 pessoas foram alfabetizadas em apenas 45 dias, isso porque o processo se deu em apenas quarenta horas de aula e sem cartilha. Esta proeza tornou-se reconhecida como o feito mais marcante de Paulo Freire no campo da Pedagogia.

Paulo Freire

A metodologia usada por Freire foi a escolha de palavras geradoras, comuns no vocabulário local como, por exemplo, cimento, tijolo, enxada, vassoura, terra, colheita, entre outras. Diante dos alunos, o professor mostra lado a lado a palavra e a representação visual do objeto que ela designa. Os mecanismos de linguagem são estudados depois do desdobramento em sílabas das palavras geradoras. O conjunto das palavras geradoras deve conter as diferentes possibilidades silábicas e permitir o estudo de todas as situações que possam ocorrer durante a leitura e a escrita, fazendo com que a pessoa incorpore as estruturas linguísticas do idioma.
A partir da decodificação fonética das palavras, o método freiriano visa ir construindo e associando novas palavras, aumentando assim o repertório dos alunos. Embora atualmente a técnica de silabação seja vista como “ultrapassada”, o uso de palavras geradoras continua sendo adotado com sucesso em programas de alfabetização em diversos países do mundo.
O método de Paulo Freire privilegia o diálogo e o trabalho em grupos, valorizando os conhecimentos trazidos pelos educandos. Portanto, seu método também conta com a organização dos círculos de cultura.

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Método de alfabetização Paulo Freire

O círculo de cultura promove o debate sobre questões centrais da realidade cotidiana dos alunos, como trabalho, cidadania, alimentação, saúde, organização das pessoas, liberdade, felicidade, valores éticos, política, opressão, economia, direitos sociais, religiosidade, cultura, entre outras, além de visar promover o processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita.

círculo de cultura método de alfabetização


Caso você esteja se perguntando “mas por que círculo?”, a resposta é que, Na figura do círculo, todos se olham e se veem. Neste círculo, o educador é visto como um animador e coordenador das discussões que, como um companheiro alfabetizado, participa de uma atividade comum em que todos se ensinam e aprendem. Em todo momento, promove um trabalho, orienta uma equipe cuja maior qualidade pedagógica é o permanente incentivo a momentos de diálogo sobre cultura e sociedade.

A importância do aprendizado conjunto

A chave para o processo de conscientização preconizado por Paulo Freire é a valorização da cultura do aluno e está no âmago de seu método de alfabetização, formulado inicialmente para o ensino de adultos.
Segundo Freire, a educação deveria passar necessariamente pelo reconhecimento da identidade cultural do aluno, sendo o diálogo a base de seu método. O conteúdo deveria estar de acordo com a realidade cultural do educando e com a qualidade da educação, medida pelo potencial de transformação do mundo.

O pensamento Pedagógico Político de Paulo Freire

Freire desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para ele, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno, possibilitando o conhecimento e pensamento crítico às parcelas desfavorecidas da sociedade, para que elas entendessem a situação de oprimidas em que estavam e pudessem agir em favor da própria libertação. Nascido em uma das regiões mais pobres do país, ele experimentara essa realidade, e, em sua trajetória, defendeu o ensino como forma de despertar a criticidade do aluno, fazendo com que o mesmo buscasse a ampliação de sua consciência social e conseguisse atingir à autonomia.

Paulo Freire

Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela maioria das escolas, por serem escolas burguesas, qualificadas por ele como escolas de “educação bancária”. Segundo Paulo Freire, o professor destas escolas agem como quem deposita conhecimento no aluno, visto por sua vez como como receptivo e dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma transferência destes professores que se julgam seus detentores de toda sabedoria que existe. Para Freire, este tipo de educação é proveniente de uma escola alienante, com ideologias que visam manter os alunos na condição de alienados e oprimidos,
“[…] Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade”. - escreveu o educador.
Enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação que Freire defendia tinha a intenção de inquietá-los e cativá-los ao pensamento crítico e investigativo.

O exílio durante a Ditadura Militar

Por seu empenho em ensinar os mais pobres, Freire tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e na África. Porém, pelo mesmo motivo, sofreu a perseguição do regime militar no Brasil. Os pensamentos de Paulo Freire passaram a ser vistos como subversivos durante a Ditadura Militar (1964-1985) e, como consequência, foi preso por 72 dias e exilado, só podendo voltar ao país após 16 anos.
Freire foi um teórico assumidamente defensor de que a educação deveria ser uma prática libertadora, inclusive, “Educação como prática da liberdade” e “Pedagogia do oprimido” foram dois de seus livros mais importantes, escritos enquanto ele estava exilado.

frase de Paulo Freire


Recuperação salarial de professores

Além de ter sido um grande defensor da educação democrática, Paulo Freire foi também defensor dos professores. Seu trabalho na educação e sua visão de que a consciência crítica e ativa precisa ser despertada, reforçava o que o papel do professor ia além do ensinar, pois para ele o ato de ensinar está diretamente relacionado ao de aprender. Por essa razão, defendia que o professor deveria ser valorizado em todos os sentidos, pois ele é fundamental para a construção de uma sociedade que pretende atingir uma educação de qualidade.
Durante o período de 1989 a 1991, Paulo Freire assumiu a direção da Secretaria Municipal de Educação (SME) do Estado de São Paulo, ele trabalhou na defesa dos ganhos do profissional, bem como na implementação de movimentos de alfabetização, formação continuada e de revisão curricular.

Destaque na educação brasileira

Além de ter recebido uma variedade de prêmios de diferentes países e organizações, dentre eles o Prêmio Andres Bello, da OEA (Organização dos Estados Americanos), como Educador dos Continentes, Paulo Freire recebeu nada menos que 41 títulos de doutor honorário em diversas universidades do mundo, inclusive Harvard e Oxford, devido às suas pesquisas.
A necessidade de visibilidade e de valorização da pesquisa em educação nacional foi muito bem destacada na produção intelectual de Paulo Freire. Ainda hoje, Paulo Freire é um ícone da educação brasileira, sendo um dos nomes mais respeitáveis para o embasamento teórico de pesquisas relacionadas à alfabetização.
Embora o patrono da Educação brasileira ainda seja rejeitado e incompreendido por pessoas que possuem uma visão mais autoritária, as obras de Paulo Freire falam por si e são um grande e importante legado para o desenvolvimento da educação moderna.


Quer saber mais? Leia a bibliografia de Paulo Freire:

Educação e atualidade brasileira (1959)
A propósito de uma administração. Imprensa Universitária (1961)
Alfabetização e conscientização (1963)
Educação como prática da liberdade (2000)
Educação e conscientização: extensionismo rural (1968) – Paulo Freire, Raul Veloso e Luís Fiori.
Extensão ou comunicação? (2001)
Ação cultural para a liberdade e outros escritos (2007)
Cartas a Guine-Bissau: registros de uma experiência em processo (1984)
Os cristãos e a libertação dos oprimidos (1978)
Consciência e história: a práxis educativa de Paulo Freire (antologia) (1979)
Educação e mudança (1979)
Multinacionais e trabalhadores no Brasil (1979)
Quatro cartas aos animadores e às animadoras culturais (1980) República de São Tomé e Príncipe
Conscientização: teoria e prática da libertação; uma introdução ao pensamento de Paulo Freire (1980)
Ideologia e educação: reflexões sobre a não neutralidade da educação (1981)
Sobre educação (Diálogos), Vol. 1. (1982)
Por uma pedagogia da pergunta (2002) – Paulo Freire e Antonio Faundez.
Fazer escola conhecendo a vida (1986) – Paulo Freire, Adriano Nogueira e Débora Mazza
Aprendendo com a própria história (2000) Paulo Freire e Sérgio Guimarães.
Na escola que fazemos: uma reflexão interdisciplinar em educação popular. Paulo Freire; Adriano Nogueira e Debora Maza
Que fazer: teoria e prática em educação popular (1989) Paulo Freire e Adriano Nogueira.
Paulo Freire conversando con educadores (1990)
Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra (1990) – Paulo Freire; Donaldo Pereira Macedo
A Educação na cidade (1991)
A importância do ato de ler: em três artigos que se completam ( 2008)
Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido (1997)
Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar (2008)
Política e educação: ensaios (1993)
Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis (2003) – Paulo Freire e Ana Maria Araújo Freire
Essa escola chamada vida (1994) Paulo Freire e ‎Frei Betto
O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação e mudança social – Myles Horton; Paulo Freire; Brenda Bell
À sombra desta mangueira (1995) Paulo Freire e Ana Maria Araújo Freire
Pedagogia: diálogo e conflito (1986) – Paulo Freire, Sérgio Guimarães e Moacir Gadotti
Medo e ousadia: o cotidiano do professor (1997) – Paulo Freire e Ira Schor
Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (2009)
Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos (2000)
A África ensinando a gente: Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe (2003) – Paulo Freire e Sérgio Guimarães

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